Fazenda estuda criar novo índice para expurgar preços de alimentos e combustíveis e, assim, reduzir a meta de inflação e a taxa Selic
25 de novembro de 2010 | 23h 00
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer "desidratar" o índice de inflação na tentativa de reduzir a taxa de juros mais rapidamente no governo Dilma Rousseff. Embora o Banco Central já calcule os chamados núcleos da inflação medida pelo IPCA excluindo alguns alimentos e combustíveis, Mantega resolveu anunciar que o governo estuda criar novo índice para expurgar os preços desses produtos.
Será o IPCA Ex-Combustíveis e Alimentação. A ideia, segundo apurou o Estado, é retirar todos os alimentos e combustíveis do novo índice, diferente do que faz o BC brasileiro hoje e como faz o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos).
Numa espécie de nova "contabilidade" para a inflação, seguindo estratégia que também será adotada para as contas públicas no próximo governo, Mantega justificou que a medida é necessária porque o Brasil se "acostumou a olhar a inflação cheia".
O novo índice traz naturalmente à tona a discussão em torno de uma mudança na meta de inflação, fixada em 4,5% para 2011 e 2012. Enquanto o IPCA acumulado em 12 meses até outubro está em 5,20%, cálculo de um grande banco mostra que o índice com o expurgo de alimentos e combustíveis no mesmo período é de 4,16%.
Juro menor
Se o governo resolver definir a meta com base no novo índice futuramente, isso pode significar uma menor carga de juros para conter a inflação. Com os expurgos, segundo fontes ligadas ao governo, o ministro acredita que o Banco Central (BC) não precisará reagir a movimentos "momentâneos e passageiros" de alta de preços, muitas vezes decorrente de problemas climáticos e de choques externos. Um ponto negativo é que o núcleo dificulta a identificação de mudanças estruturais de preços de alimentos ou de combustíveis.
Nos últimos anos, Mantega sempre se contrapôs ao BC por elevar os juros por conta de pressões inflacionárias desse tipo, que na sua avaliação não tinham nada a ver com aquecimento da demanda da economia.
Entrou para história a declaração de Mantega, em abril de 2008, de que a culpa pela alta da inflação era do "feijãozinho que todo brasileiro come".
Fortalecido no cargo, Mantega indica agora que quer mudar o foco do BC do índice cheio para o expurgado. O BC, porém, sempre defendeu trabalhar com a meta pelo IPCA cheio por considerar mais fácil para a população entender o sistema.
Independentemente disso, o Copom tem olhado com muita atenção os núcleos do IPCA (o próprio BC faz três diferentes cálculos de núcleos) e muitas vezes decide o rumo da taxa de juros com base neles. Se estão muito elevados, o BC sobe os juros.
Para defender a mudança, Mantega destacou que esse é o modelo utilizado nos EUA. O Fed, no entanto, não trabalha com meta formal de inflação. E tem mandato para perseguir o maior crescimento possível.
Meta mais baixa
Em entrevista ao canal GloboNews, o ministro avaliou que a economia precisa de ajustes para que o governo possa reduzir a meta de inflação. Para ele, uma meta mais baixa, dependendo das circunstâncias, pode significar juros mais altos e menos crescimento.
Ele destacou que uma parte importante da economia brasileira permanece ainda indexada, o que dificulta a queda da meta de inflação. "A economia tem uma inércia, que não é pressão (inflacionária), mas que vai passando de um ano para o outro."
Entre os problemas apontados por Mantega, está a indexação dos preços administrados de serviços públicos, como tarifa de energia elétrica e aluguéis, pelo IGP-M, índice que traz uma influência dos preços das matérias-primas (commodities) e da taxa de câmbio. Mantega antecipou que esse problema pode ser resolvido com a "diluição" desse e de outros indicadores ou troca por índices melhores.
Outro problema apontado pelo ministro é o impacto dos preços das commodities na economia. "O Brasil é cada vez mais forte na produção e exportação de commodities, que estão subindo há vários anos e exercem uma pressão inflacionária muito grande", ponderou.
Copom
Faltando poucos dias para a última reunião do Copom, Mantega disse que vai aceitar caso o BC aumente os juros, mas ponderou que isso só acontecerá se for necessário. "Nós sabemos que aumentar a taxa de juros tem um custo para o País."
Comentário:
Talvez o FED nao inclua no indice de inflacao alimentos porque os tais variam significativamente no verao e inverno. Por exemplo, a caixa de mangas custa menos do que $6.00 no verao, sobe a mais de $10.00 no inverno, retornando no proximo verao a valores inferiores a $6.00. No caso da gasolina, a mesma varia com a variacao do valor do Petroleo. Por exemplo, em 2008 quando o barril despencou de $150 para menos de $70, o valor da gasolina caiu proporcionalmente. Temos no Brasil a mesma variação? Os preçs da gasolina diminuem na proporção do valor internacional do barril de petroleo? E os alimentos, também diminuem retornam ao seu valor no proximo verão, incluindo apenas a inflacao de um digito? Talvez seja por esta razão que o BC, ate o momento, incluiu tais items na definicção da inflacção, e o FED não.
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